quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cícero Moraes

A suprema divindade
Caprichou no seu trabalho
Não deixou serviço falho
Fez com grandiosidade
Construiu com qualidade
Retocou com perfeição
Quem quiser diga que não
Mas afirmo com certeza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Faz a caatinga murchar
Quando se acaba a chuva
Sendo a formiga saúva
Sai de casa pra cortar
E alimento armazenar
Para a próxima estação
Tendo a alimentação
Garantida em sua mesa
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Se a seca nos traz penar
Por vermos mata cinzenta
O sertanejo se aguenta
Sabe como se virar
Come o que tava a guardar
Derradeira produção
E o seu silo de feijão
É sua maior riqueza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.
     
Quando chove em minha terra
A natureza se agita
Cria uma imagem bonita
Matuto o  feijão enterra
Planta lá no pé da serra
Porque é de barro o chão
E ali, a produção
Será maior na grandeza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Cobra, sapo e caçote
Aparecem na invernia
Eles não têm simpatia
Porque a cobra dá bote
Se correr ou der pinote
Ela pega à traição
Faz de sua refeição
O  pequeno sem defesa
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Um céu bonito estrelado
Que não há noutro lugar
Quem observa o luar
Fica logo encantado
Um vaga-lume amostrado
Completa a orquestração
Da bela composição
Do quadro da natureza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Mandacaru e facheiro
Agridem com seus espinhos
Mas as aves fazem ninho
Pra se defender ligeiro
Do inimigo traiçoeiro
Que procura refeição
Ele sofre frustração
Que o espinho é a defesa
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Asa branca e a perdiz
O tiziu e o canário
Sempre alegram o cenário
Junto canta a codorniz
Fazem mata mais feliz
Com sua entonação
Praticando a afinação
Da regente natureza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Ver um açude sangrando
Alegra qualquer matuto
Que já fica resoluto
Na pescaria pensando
Vai os compadres chamando
Para fazer o pirão
Tomar cachaça e quentão
Na beirada da represa
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Uma morena bonita,
Uma cabocla pequena,
Uma galega serena
Com belo laço de fita
Com seu vestido de chita
Fazendo a encenação
Abalando o coração
Do matuto com firmeza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

      São José do Belmonte/PE

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