sábado, 24 de dezembro de 2011

DESPEDIDA

No aperto de mãos da despedida
O suor misturou-se a comoção
Anulando o perfume da paixão
E deixando no canto o da partida.

O achado de nós perdeu a ida
No caminho do eu, da solidão
Pois sem nós, eu não tenho a condição
De seguir linha reta sem saída.

Eu conjugo o presente no passado
Pra sentir o meu corpo ser tocado
Pelas mãos que acenam em tom de adeus,

Quando choro por ver as suas costas
O relógio me chega com respostas
Me dizendo que o tempo é um senhor Deus.

Thyelle Dias

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lima Jr. e Cícero Moraes

Em viagem a Petrolândia, o poeta Lima Júnior, da cidade de Tuparetama, recebeu um mote informado que sua autoria seria de um tal Pedro Téo, versejada com Ciço Moraes de Belomonte:



A MORADA DE DEUS É TÃO DISTANTE
QUE É PRECISO MORRER PRA CHEGAR NELA.


Cícero Moraes:

Todos nós já nascemos com missão
A cumprir quando em vida aqui na terra
No momento em que a vida se encerra
Nós cumprimos a determinação
E o chamado de Deus para a mansão
Vem às vezes de uma forma singela
Quando a alma se solta e o corpo gela
A viagem ao céu é no instante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.


Lima Júnior:

O relógio da vida marca a hora
Reservada pra última viagem
Sem comprar um bilhete de passagem
Nem saber o momento de ir embora
Perde a vista quem vai,quem fica chora
Quando a terra nos abre uma janela
O espírito se solta o corpo gela
E o caixão é o transporte mais possante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela


Cícero Moraes:

Se perder um amigo faz pesar,
Imagine um filhinho ou um irmão
É capaz de parar o coração,
Não existe quem possa amenizar
Tanta dor e tristeza no olhar
No momento de uma sentinela
E lembrando essa pessoa bela
A saudade se torna agonizante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.


Lima Júnior:

A matéria cansada não atende
Aos comandos da mente que se cansa
A pressão sobe e desce igual balança
Quando encurta a passada e o corpo pende
Sem a força vital não compreende
Vendo um anjo fazendo sentinela
Vem um sopro da morte apaga a vela
E a Deus manda mais um ser errante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Aniversário de poeta

Jessé Costa, poeta de Timbaúba-PE, já muito querido pelos poetas sertanejos, aniversariando, recebe um versinho de Kerlle de Magalhães:

Num dia igual a este
Deus traçou, na luz, a meta;
Escreveu um lindo verso
Criando um grande atleta,
Das rimas de nossas vidas
Para não serem perdidas
Quando fez você, poeta!

Já era de se esperar, com sua humildade e admiração pelos amigos, devolve na hora uma sextilha maravilhosamente rendida por uma inspiração de apreço ao colega, qual mostra ser sempre o poeta que todos admiram:

Pois quem vê só se arreta
Com meus versos tão banais,
Versos grande são os teus
Como tudo que tu faz,
Mas, porém, muito obrigado
E se Deus fez-me inspirado,
Fez você mil vezes mais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Poesia de Vinícius - O poeta

Talvez não seja tão bom
Ser poeta nessa vida
Talvez seja até sofrida
A vida com esse dom...
afirmo isso em bom som:
... Alegria nos renega!
É que o poeta se entrega,
Sente a dor de todo mundo,
Tem sempre um choro profundo
Que no seu peito se apega.

Saudade é sempre pior
No coração do poeta.
Alegria é nossa meta,
Mas a tristeza, é maior.
Eu sinto a dor do menor,
Abandonado e sem brilho...
Sinto a dor do andarilho,
Sinto do velho a idade,
Eu sinto até da saudade
Da mãe que perdeu o filho.

Eu sinto a dor de quem ama
Mas não pode ser amado.
Eu sofro multiplicado
Quando a paixão não me inflama.
Eu sinto o queimar da chama
De quem sente solidão...
Sinto a fome de um irmão
Que a muito tempo não come,
Eu sinto a praga da fome
Que atrapalha o meu Sertão!

Poeta já nasce feito
Com seu destino traçado
Já nasce predestinado
A sentir dor no seu peito.
Deus nos criou desse jeito:
Uma raça diferente!
Sinto a dor de toda gente
Que não tem sonho, nem meta...
Sinto até, como poeta,
A dor que o poeta sente.

Poeta no dia-a-dia
Tem sentimento apurado
Só que não sofre calado,
Descarrega em poesia!
Tenta encontrar alegria,
Mas só tristeza lhe afeta.
Possui a vida inquieta
Mas mesmo assim é valente,
Pois com toda dor que sente
Não deixa de ser poeta!

Apesar de toda dor
Caso outra vez eu nascesse,
E Jesus me concedesse
Escolher o meu labor,
Minha escolha sem temor
Não era ser diferente.
Mesmo com essa dor pungente
Que se instala no meu peito
Eu queria satisfeito
Ser poeta novamente!

Vinícius Gregório

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

poetisa Pepita

SONETO DA LUA

Nesta ânsia de tanto te querer,
Vou viver sem temer fatalidade.
Nada mais me farar enlouquecer,
A não ser esta dor... esta vontade.

De querer-te a mim mais um pouquinho,
Mesmo sendo difícil o nosso amor...
Não há nada que encurte esse caminho
Que nos uniem: paixão, luz e calor.

Mesmo assim sem querer ser sempre tua,
Vivo eu tão sozinha como a lua
Qual espera por mais um anoitecer.

Eu te espero meu bem... só com vontade
De matar totalmente esta saudade
Qual me mata na falta de você..


Tabira-PE

domingo, 28 de agosto de 2011

SENTI -LOS


É preciso extrair a pura essência
Existente em nós e em nossas vidas,
Pois assim sentiremos resistência
Ao encontrarmos sensações perdidas.

Enxergar o escuro em transparência,
Ouvir o som nas notas produzidas.
Saciar o sabor da existência,
Cheirar a luta nas canções contidas.

Tocar a alma, a forma, o instrumento.
Amar a vida, a fé e o sentimento,
Que é necessário para prosseguir…

Pois, se não houver sonhos construídos,
Qual o sentido em ter os sentidos
E não usá-los pra saber sentir?

Isabelly Moreira - São José do Egito

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

VELAS, BEBADOS, PUTAS, CORNOS E POETAS

AS QUATRO VELAS


Quatro velas ardiam sobre a mesa,
E falavam da vida e tudo o mais.
A primeira, tristonha: “Eu sou a PAZ,
Mas o mundo não quer me ver acesa…”

A segunda, em soluços desiguais:
“Sou a FÉ! Mas é triste a minha empresa:
Nem de Deus se respeita a Realeza…
Sou supérflua, meu fogo se desfaz…”

A terceira sussurra, já sem cor:
“Estou triste também, eu sou o AMOR…
Mas perdi o fulgor como vocês…”

Foi a vez da ESPERANÇA – a quarta vela:
“Não desiste ninguém! A Vida é bela!
E acendeu novamente as outras três!

Dedé Monteiro
Tabira, 12/02/2009


OS QUATRO BÊBADOS

Quatro bêbados bebiam numa mesa,
E falavam da vida e tudo em fim.
O primeiro dizia: “Eu bebo assim,
Pra poder afogar minha tristeza”…

O segundo, engolindo uma de gim,
Diz: “a cana é quem faz minha defesa…
Se não fosse a bebida, essa beleza,
Minha vida seria muito ruim!

O terceiro, morrendo de ressaca,
Diz: eu sinto a matéria muito fraca,
Vou parar de beber essa semana!

Grita o outro: “não faça essa desgraça,
Mande abrir mais um litro de cachaça
Que é pra gente morrer bebendo cana!

Gonga Monteiro
Tabira, 18/02/2011


AS QUATRO PUTAS

Quatro putas falavam em um bar
Sobre a vida que era muito dura...
A primeira, cheinha de frescura,
Diz assim: “Eu vou me aposentar!

A segunda, morrendo de chorar,
Diz pra outra: “Ninguém mais me segura,
Tô com um metro e cinquenta de altura
E a balança acabou de se quebrar.

A terceira, já com sessenta anos,
Disse as outras: “Restaram desenganos,
Ninguém mais quer três velhas prostitutas...

Veio a quarta, a que era cafetona,
E, lembrando dos tempos bons de zona,
Deu coragem de novo às outras putas.

Felipe Júnior
Recife, 03 de março de 2011


OS QUATRO CORNOS

Quatro cornos sentados numa praça
Lamentavam por ter desilusões.
O primeiro lembrando as traições:
- Eu me vingo das pontas na cachaça.

O segundo chorava da desgraça
E dizia: não perco as ilusões.
Se a mulher preferiu ter Ricardões
Isso é fase, mas sei que logo passa.

O terceiro chifrudo, o mais matreiro:
O que importa é a mulher trazer dinheiro
Pra o que falam de mim, nunca liguei.

Já o quarto cornão, foi taxativo:
- Quando a minha me trai sou vingativo.
Eu arranjo outro bofe e vou ser gay.

Ismael Gaião -  Condado/PE


OS QUATRO POETAS

O primeiro poeta com as velas
Deu um show de poesia com certeza
O segundo num bar ouve na mesa
Depois narra dos bêbados as sequelas

Outro escuta das putas as mazelas
Comentar sobre os ossos do oficio
E escutando dos cornos o suplício
Chega outro e relata tais procelas

Como é dura a vida dos poetas
No afã de cumprirem suas metas
Desmanchando-se em versos, quem diria

Juntam: bêbados, cornos, velas, putas
Em estrofes bem simples, mas astutas
Transformaram isso tudo em poesia



Carlos Aires
Carpina/PE, 05/03/2011

Lua

"Lua você me responda:
Porque é tanto o clarão?
Que dá pra gente encontrar
Um alfinete no chão
E com a sua claridade
O amor acha a saudade
Nas ruas do coração."

Aldo Neves - Tuparetama

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MAIS UM POEMA - Lima Jr.



Sou como o vento da noite
Pelas esquinas da vida,
Na curva de um açoite
Que ao pensamento intimida.
Sou como a voz da saudade,
Quando a lembrança invade
Minha lucidez, e afeta
Meu coração enfadado.
Por este fardo pesado
De ter nascido Poeta!

Sou qual cigarra dos vales
Que solitária decanta.
Um canta atraindo os males,
Outro aos males espanta.
Colibri equilibrista
Sou, sem cantar, sem conquista
Quando o dia chega ao fim.
Que os sopapos da razão
Nas cordas do coração,
Quase o arrancam de mim.

Sou como o sol que aquece,
Que dá vida e que dá morte.
Sou como a fé de uma prece
De quem joga a própria sorte.
Sou andarilho sem tino,
Sou condutor do destino,
Feito pra mim sem medida.
Dos sonhos, sou gondoleiro,
Sem encontrar paradeiro
Nem porto pra minha vida.

Meu corpo é o holograma,
Do ser que o habita e toma...
Minha mente é como chama,
Queimando o mau, que me doma.
Minha vida eu mesmo faço,
Montando cada pedaço
Que o dia me oferece.
Não sei se em tudo há sentido,
Mas sei que o que é vivido
Nem sempre é o que se merece.

Sou menestrel sem vaidade,
Sou terapeuta do ego.
Sensível tato do cego,
Suspiro de liberdade.
Gangorra de sentimentos,
Voz que viaja nos ventos,
Sem endereço e sem cor.
Sou o espaço a separar
O olho e o olhar,
De quem enxerga o amor.

Sou violento oceano,
Nos continentes da alma.
Sou filho do soberano,
Mas esqueço, e perco a calma.
Sou guardião do teu riso,
Me alimento e preciso
Demais da tua alegria.
És dona dos sonhos meus.
Sou mortal, rogando a Deus,
Teu amor, em POESIA!


Lima Jr., Tuparetama-PE

terça-feira, 16 de agosto de 2011

SOU

Sou a parte que não sei
Sou o surreal da arte
Sou a parte a qual faltei
Sou a parte em toda parte
Que se parte em pedacinhos
Sou vários pequenininhos
Sou até o que sobrou
E o que digo andando a esmo?
Se o que vejo de mim mesmo
É tal parte que não sou.

Kerlle de Magalhães

sábado, 13 de agosto de 2011

Brás Costa

PRA MATAR AS SAUDADES DO SERTÃO


Terra mãe, quanta falta me fizeste
Quantos dias sonhei poder rever-te
Cada vez que te deixo me investe
Uma febre com medo de perder-te.

O caráter que tenho tu me deste
Minha alma da tua é uma parte
Como posso esquecer de ti Nordeste
Se viver para mim é recordar-te.

Minha sina é de ti viver distante
Porém quando meus dias de errante
Terminarem, terei como jazigo

O teu ventre e depois de tão ausente
Poderei sepultar-me eternamente.
Onde foi sepultado o meu umbigo.

Brás Costa, Suíça
http://www.youtube.com/watch?v=eYL2MC-NlR0

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

BERÇO AMADO



Lá no alto do cruzeiro
Onde o coco faz a festa
A visão que Deus empresta
É de um quadro verdadeiro
E se dela eu sou herdeiro
Vim da sorte bem que sei
No qual sempre carreguei
O seu nome consagrado
Arcoverde, berço amado,
Terra mãe que me criei.

Sou filho do Moxotó
De Olho D’água dos Bredos
Dos meus primeiros enredos
Onde guardo e sei de có
Fiz um laço e dei um nó
Com os versos que solei
Porque nunca esquecerei
Donde veio meu legado
Arcoverde, berço amado,
Terra mãe que me criei.

Decantei meu lugarejo
Na feira, vilela e praça.
Mostrando essa minha raça
De caboco sertanejo
Que minha lábia sem pejo
Faz o meu sertão um rei
Do qual sempre me orgulhei
De cantar em cada estado
Arcoverde, berço amado,
Terra mãe que me criei.

Kerlle de Magalhães

terça-feira, 26 de julho de 2011

UM COPO DE COCA COLA ( Dudu Moraes)

Outra bebida me atrasa
por isso eu fico distante
Prefiro refrigerante
Com carne assada na brasa
tudo isso me dá asa
meu pensamento decola
Fiz desse vício uma escola
Na qual me matriculei
Depois que me viciei
num copo de coca cola

Gostei logo de início
quando provei a danada
"tumei" ela bem gelada
pra alimentar o vício
pra eu largar da difícil
porque mulher só da bola
pro "caba" que desenrola
boa lábia e compromisso
e eu faço tudo isso
num copo de coca cola

depois que eu tomo o primeiro
viajo pra outro mundo
aí eu tomo o segundo
e em seguida o terceiro
pensando que "tou" solteiro
mancho de batom a gola
a mulher se descontrola
e eu me faço de inocente
mas apanho consciente
num copo de cola cola

a bebedeira não pára
porque da coca eu preciso
só no dia que eu tô liso
eu paro de encher a cara
como é coisa rara
eu ficar liso de esmola
eu "desenbaio" a viola
canto verso dia inteiro
arrecadando dinheiro
pra um copo de coca cola

com dinheiro embolsado
me destino para o bar
e por sorte ou por azar
senta uma turma do lado
e uma moça de namorado
que o mesmo não lhe consola
pois o assunto ou é bola
ou que bebe desde sexta
e eu com essa cara de besta
num copo de coca cola

eu não critico a cachaça
cada um faz o que quer
mas por ser fã de mulher
eu num bebo essa desgraça
pois uma mulher que passa
maquiagem põe argola
não quer ter na sua cola
um cabra de tola cheia
se agarra até com o mais feio
mas que bebeu coca cola

diante tanta vantagem
eu vivo assim sossegado
por nem viver ressacado
nem conversando bobagem
bebo só conta pabulagem
que é rico tem corolla
que ja passou na degola
e que ja bebeu mil venenos
mas, se eu mentir e bem menos
num copo de coca cola.

Dudu Morais poeta Tabirense.

sábado, 14 de maio de 2011

Se fosse outro meu rumo
que não fosse ser poeta,
eu não sei o que faria,
eu não traçaria meta,
nem iria pr'outro lado.
Faria galope errado,
sextilha eu faria errando,
e confesso prá você,
poeta eu não ia ser,
mas ia morrer tentando.

Gleison Nascimento

quinta-feira, 5 de maio de 2011

AS SEVERINAS


Itapetim e São José do Egito são cidades de poetas e músicos. Recentemente formado o grupo de forró pé-de-serra, "As Severinas" é motivo de orgulho para ambas as cidades. Com um repertório rico em regionalismo e poesia, o grupo vem se tornando conhecido pela autenticidade e carisma das meninas isabelly, Gabi e Monique.

FALTAM DEZ PRA MEIO DIA (Kerlle de Magalhães)

“Vi-te uma vez... mas mesmo assim, te trago
Em minha fidelíssima memória.
Que há de guardar por sua eterna glória
O teu perfil resplandecente e mago.”

Emygdio de Miranda

Faltam dez pra meio-dia.
Á moça que me informou as horas.

Pela rua vinha andando
Já prevendo o meu atraso
E quando fui perguntando
A uma moça por acaso
As horas que ela tinha,
Demonstrando quando vinha
Uma enorme simpatia,
Os ponteiros ela olhou,
Foi então que me informou:
Faltam dez pra meio-dia.

Os seus lábios lentamente
As palavras soletravam,
Diante da minha frente
As sonoras ecoavam
Como flautas encantadas,
Feito liras encarnadas
Decantando poesia,
Essa moça me chocou
No momento que falou:
Faltam dez pra meio-dia.

Eu morro, mas não esqueço
Do boliço dos seus lábios
Me dizendo com apreço
Ao fitar olhares sábios
No relógio cor marrom,
Informado em baixo tom
Sobre o tempo que corria,
Eu ali fiquei parado
E lhe ouvindo concentrado:
Faltam dez pra meio-dia.

Antes de agradecer
Eu flertei os olhos dela,
Pois, eu já podia ver
Uma formosura bela
Com o som de sua fala,
Da qual mesmo quando cala
Sua voz não silencia,
Repetindo em minha mente
Sua voz constantemente:
Faltam dez pra meio-dia.

Fui seguindo meu caminho
Com ela no pensamento,
Quando às vezes tô sozinho
Fecho os olhos um momento
Recordando seu semblante
E a sua voz delirante
Parecendo em melodia,
Como se eu tivesse vendo
Ela linda me dizendo:
Faltam dez pra meio-dia.

Depois fiquei desejando
Ouvir sua voz de novo,
Na rua fui procurando
Chorei no meio do povo,
Mas, não a reencontrei.
Também nunca perguntei
Sobre as horas que batia,
Como o tempo diluísse
Desde quando ela me disse:
Faltam dez pra meio-dia.

Kerlle de Magalhães

quinta-feira, 21 de abril de 2011

No mote de Cicinho Gomes "A VIDA SÓ TEM SENTIDO/ENQUANTO HOUVER ILUSÃO"

Luciano Pedrosa:

Pelas veredas da vida
Devemos sempre sorrir
Até mesmo no ferir
De uma esperança perdida
Num choro de despedida
Não se entregue a solidão
Pois não há um coração
Que nunca tenha sofrido
A vida só tem sentido
Enquando houver ilusão.

Cícero Moraes:

Vivendo a realidade
Fantasiada em sonhos
Esqueço fatos tristonhos
E me atenho a verdade
Buscando simplicidade
Eu vivo sem solidão
Mas reconheço a razão
Da frase que tenho ouvido:
A vida só tem sentido
Enquando houver ilusão.

Luciano Pedrosa:

Sempre sonhe que o futuro
Será melhor que o presente
Tenha fé e siga em frente
Buscando um porto seguro
E não se mostre inseguro
Se algum dia for ao chão
Que alguém vai lhe dar a mão
E nada estará perdido
Que a vida só tem sentido
Enquando houver ilusão.

Cícero Moraes:

Vivendo a enfrentar
O mundo com alegria
Fantasiado em poesia
Viajo a decantar
Vejo um poeta montar
Uma estrofe em perfeição
Cantando China e Japão
Sem alí jamais ter ido
A vida só tem sentido
Enquando houver ilusão.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Soneto do Poeta Gleison Nascimento

UMA ROSA


E a rosa que dei por teu perdão
era viva, garbosa, linda-flor,
era o cheiro da vida -seu odor-
sua cor foi vermelho, de paixão.

mas a rosa caiu, findou no chão
pois murchou imitando seu amor
e o cheiro que exala hoje é dor
que destroça um castelo de ilusão.

Eu baixei minha vista, prá não ver
tu partires ( e a nossa flor morrer)
castigando o sentir mais leve e casto.

mas o tempo com o tempo foi mostrando
que milhares de rosas vão brotando
pois a vida é um fértil campo vasto.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Soneto solitário

Um poema escrevi em meu chapéu,
Escrevi um poema em meus sapatos
E na roupa; escrevi em arranha céu
Este verso com sentimentos natos.

Escrevi outro verso no teu véu
E outros versos compus em teus retratos,
E depois o meu verso, triste, ao léu
Foi chorar por teus atos tão ingratos.

Desde sempre esta lira tão tristonha
Entristece este livro que a componha
Porque não há nós dois pra dar a graça.

Quando alguém quiser ler algum soneto,
Este meu não será qualquer seleto,
Mas será o mais triste dessa praça.

Kerlle de Magalhães

quarta-feira, 23 de março de 2011

Galdêncio Neto

COMO POSSO SER EU UM HOMEM FEITO
SE EM CRIANÇA A INFÂNCIA NÃO PASSEI?

Como posso ser eu um homem feito
Num futuro sem antes ter passado?
Como posso sorrir sem ter chorado
Tantas coisas que passam no meu peito?
Perfeição se transforma no defeito
Se o passado presente eu encontrei
O melhor duma vida lá deixei
Em um filme que quase não se assiste.
Como sei se a feliz idade existe
Se em criança a infância eu não passei?
  
Como posso lembrar de alegria
Se na infância, tristezas só ganhei?
Se criança eu já fui, nem mesmo sei...
Meu pião, ah... jogar, como eu queria!
Ter no carro de lata a fantasia
De menino que agora é que sonhei...
Brincadeiras, antigas que eu brinquei 
E tornei-me o garoto mais perfeito!
Como posso ser eu um homem feito
Se em criança a infância eu não passei?

A infância vivi, mas só no sonho...
Acordei pra catar vaca de osso,
Tomar banho e brincar de cai no poço,
Cada beijo e um rosto mais risonho...
De alegre transmudo e sou tristonho
Por saber que o passado eu retornei
Na certeza, de um sonho que sonhei,
Pois voltar pro passado não tem jeito.
E não posso ser eu um homem feito
Se em criança a infância eu não passei.

 Como sei quanto vale uma saudade
Se o valor estimado é a infância?
Se na vida não tive a tolerância
De parar pra mim mesmo, com essa idade
Conheci do divino a divindade
Quando vi que da vida nada sei.
Tantas coisas que nela acumulei
Na tristeza que levo no meu peito
Por não ter sido eu um homem feito
Sem a infância feliz que eu passei.

Sertânia-PE
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Poetisa Adriane Freire

Matuto conquistador
 
Há quem fale que matuto
É cabra esperto e amigo,
Pois eu tenho cá comigo
Que além de muito astuto
Tem coisa até de magia
Pois lhe digo que outro dia
Vi um senhor meio enxuto
Que tentava a todo custo
Conquistar uma Maria
Quando avistei a peleja
Ele querendo, ela correndo,
E já quase escurecendo
Naquele beija e num beija
De repente o tal matuto
Desandou a pinotar
Maria achou um insulto
Pôs-se logo a esculhambar
E o véio com aquela dança
Eu pensei: é catimbó
Parecia pajelança
O veio lá num pé só
Continuava a festança
Pois num é que a Maria
Num sei como aconteceu
Nessa hora já sorria
Já até admitia
Um cheiro que o veio deu
Quando vi, lá tava os dois,
Num agarradi danado
Só pensando no depois
Logo mais no reservado
O fato é que esse matuto
Dançarino ou macumbeiro
Por dentro de dez minutos
Que seja dito primeiro
Conseguiu, nem se esforçou,
Conquistar sua Maria
Que todo mundo queria
Mas só o matuto levou.

Arcoverde-PE

terça-feira, 15 de março de 2011

O FIM DE NOSSA HISTÓRIA

Vendo fim desse amor que não tem fim
E você decidida a me deixar
Sem razões aceitáveis, mesmo assim,
Não deixei um minuto de te amar.

Meu lamento agora não é por mim...
Me asseguro que sempre irei chorar,
Mas, lamento, será bem mais ruim
Pra você que saiu do nosso lar.

Neste fim cada um saiu perdendo
Mas você perdeu mais não merecendo
Na certeza que hoje, vendo, sei.

Vou amar muitas vezes como amado
E você amará no seu agrado,
Mas, ninguém vai te amar como eu te amei.

Kerlle de Magalhães
Por saber que me amavas fui ingrato
Por não dar o valor que merecias
Não levei nada a sério, Insensato
Por não ter feito tudo que querias
Infantil por demais, não fui fiel
Respeitar-te não foi o meu papel
Demorei pra poder reconhecer
E no abraço da nossa despedida
Eu te disse: - Perdão minha querida
E você respostou: - Vou te esquecer!!

Raphael Moura

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poeta Jânio Leite

Fui gerado e criado lá na roça
Convivi toda infância com meus pais
Não cursei faculdades federais
Minha lição foi puxar burro em carroça
Com a mão calejada e a pele grossa
De um trabalho tão árduo e tão pesado
Na enxada, na foice e no machado
Meu alimento foi feijão e rapadura
Calo sêco é anel de formatura
Pra quem fez faculdade no roçado.

São Jose do Egito-PE

quarta-feira, 2 de março de 2011

Júnior Guedes

O improviso e o dom do Cantador
Decantado ao som de uma viola
Não se vê nem se aprende na escola
Que frequenta o filho dum doutor
Numa mesa de glosa o glosador
Faz milagres com tal facilidade
Onde ele aprende, na verdade?
A fazer o que quase ninguem faz?
A escola da vida ensina mais
Do que grupo, cursinho ou faculdade

Que escola ensinou o Vitalino?
Foi qual curso que'o fez um artesão?
Quem ensina ao vaqueiro do sertão
A correr pelo mato tão ferino?
Quem deu aula ao poeta Marcolino?
Pra compor com tanta afinidade?
Quem ensinou a Pinto a "crueldade"
De botar tanto cantador pra traz
A escola da vida ensina mais
Do que grupo, cursinho ou faculdade

Que escola leciona o que é amor?
Onde é que se ensina a esperança?
Como é que se ensina a confiança?
Como é que se aprende o bom humor?
O humano é feito um furta-cor
O que está ao redor vem e lhe invade
Com humildade se aprende humildade
Só com paz se aprende a fazer paz
A escola da vida esina mais
Do que grupo, cursinho ou faculdade .

Tabira-PE

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quando a luz enlaça a rama / Pela relva cintilante.

MOTE:

Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Jessé Costa:
  
A rolinha sai do abrigo
E o caçador vai atrás
A vaca morta se jaz
E a coral volta ao jazigo
O preá mostra o umbigo
E um bem-te-vi cantante
Quer fazer frente possante
Galo que o dia aclama 
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Kerlle de Magalhães:

Os pardais sobre a cascata
Voando pelas campinas
Atravessam as colinas
Cantando no meio da mata
E um açude da cor de prata
Na paisagem delirante
A natura segue avante
Na invenção que Deus proclama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Cícero Moraes:

Esconde-se o bacurau,
Vaga-lume e a acauã
Salta pra longe uma rã,
Ouve-se ali pica-pau,
Borboletas no quintal
Num bailado interessante
Um beija-flor bem brilhante
Beijando a flor que ele ama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Jessé Costa:

A rolinha sai do abrigo
Caçador tá bem atrás
A vaca morta se jaz
E a coral volta ao jazigo
O preá mostra o umbigo
E um bem-te-vi cantante
Quer fazer frente ao possante
Galo que o dia aclama 
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Kerlle de Magalhães:

Um cortejo de besouros
Envolve as pedras soltas
Entocadas quando envoltas
Retidas como tesouros
E com alguns sabiás louros
Compondo um cantar infante
Passa um vento viajante
Nas folhas fazendo trama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Cícero Moraes:

Abelhas em seu bailar
Viajam pelo vergel
Procurando o doce mel
Para a colméia inflar
Não saem sob luar
Nem com a lua brilhante
Pois, com o sol escaldante
Perfume da flor lhe chama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Jessé Costa:

O açude se transforma
De um preto ofuscado
Prum azul meio espelhado
Refletindo toda forma
O guará não se conforma
Olhando de lá distante
O puleiro insinuante
“ – eita fome da disgrama!”
quando a luz enlaça a rama
pela relva cintilante.

Kerlle de Magalhães:

Joaninha desliza lenta
Entre os galhos da folhagem
Quando o grilo na serragem
Das canelas movimenta
Umas notas e se senta
Toca as talas galopantes
E a toada delirante
Nas campinas tem-se fama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

Jessé Costa:

S’á Maria se levanta
Dá um cutucão em Zé
Vai coar o seu café
E re-esquentar a janta
Zé se benze frente à Santa
Dá um beijo em sua amante
Enche o bucho, segue a diante
Na labuta se derrama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Não se orgulhes por ser uma Diana
Que quem fez o seu corpo sem defeito
Fez a feia, mas fez sem preconceito
Sendo filha da mesma raça humana
Fez a pobre que mora na choupana
Fez a rica que nunca passou fome
Fez você, sensual e com renome
Fez também a mulher hermafrodita
Não te orgulhes, mulher, por ser bonita,
Que teu corpo bonito a terra come.

Geni de Fonte

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Glosas com Manoel Clemente

Com algumas deixas de Manoel Clemente, poeta de Arcoverde-PE, glosadas um pouco antes do natal de 2008.


Mané Clemente:

Quem nasceu com liberdade
Vive como passarinho.

Kerlle de Magalhães:

Quando ouço de algum ninho
Uns piados... me comovo
Eu sinto pela sonora
Cantar um filhote novo
Dando inicio à liberdade
Nas cascas frescas do ovo.

Mané Clemente:

E fico nos abraços dela
Quando a noite vem surgindo.

Kerlle de Magalhães:

Quando eu a vejo sorrindo
Eu desperto e aumento o facho
Com o brilho dos seus olhos
Fico com cara de tacho
Porque linda desse jeito
Noutro canto eu não acho.

Mané Clemente:

O Natal já se passou
Mas nada eu vi mudando.

Kerlle de Magalhães:

Ano Novo vem chegando
Pois é nisso que se aposta
Passa ano, entra ano
Ano Novo é pra que gosta
Que pra muitos Novo Ano
Continua a mesma bosta.

Mané Clemente:

Um fedor de suvaqueira
Eu cuspo, engúio e corro.

Kerlle de Magalhães:

Pois nojento é o cachorro
Que tem a virilha roxa
Morde o ovo, cheira bosta
Tem ferida inté na coxa
Bebe cuspe de catarro
Cheira o fundo e lambe a troxa.

Mané Clemente:

Namorando uma morena
Que mora lá em Tabira.

Kerlle de Magalhães:

Eu pensei em ser mentira
Numa noite como aquela
Sem nenhuma intenção
Conversando e ouvindo ela
E depois daquele bote
Eu ganhando um beijo dela.

Mané Clemente:

Como foi sua chegada
Lá na casa de Luiz?

Kerlle de Magalhães:

Na casa de Seu Luiz
Fui muito bem recebido
A janta foi muito boa
Mas eu não tenho dormido
Com aquelas muriçocas
Zunindo no pé d’ouvido.

Mané Clemente:

Na feição duma mulher
De tristeza obscura.

Kerlle de Magalhães:

Me dava tanta gastura
Ver um cabra como aquele
E a moça se insinuando
Querendo sair com ele
Ele pela safadeza
E ela pelo tostão dele.

Mané Clemente:

Vou sair pro fim do mundo
Neste sonho eu me atino.

Kerlle de Magalhães:

A velhice é meu destino
Usando uma dentadura
Óculos de um forte grau
Com os rins sem ter mais cura
Com uma bolsa de mijo
Pendurada na cintura.

Mané Clemente:

Na ciência do amor
Pra falar eu me encuco.

Kerlle de Magalhães:

Eu pareço ser maluco
Por falar de romantismo
Mas a culpa é toda dele
Por fazer do meu sofismo
Relicários amorosos
Na senda do meu lirismo.

Mané Clemente:

O tamanho da cachaça
Tem o mesmo do sofrer.

Kerlle de Magalhães:

Eu gostava de beber
Cachaça com rapadura
Agora não bebo mais
Porque tive lição dura
Fugindo da solidão
Na noite triste obscura.

Mané Clemente:

Me tornar o presidente
No meu tempo de menino.

Kerlle de Magalhães:

Acredito no destino
Mas às vezes se altera
Dependendo de quem faz
Porém não de quem espera
Tem coisas que não são fáceis
Ô se fosse, ai quem dera!

Mané Clemente:

Já tive muita saudade
Daqui desse meu recinto.

Kerlle de Magalhães:

Pois não sei por que eu sinto
A vontade de chorar
Pra falar sobre saudade
Meu verso chega a travar
É porque as da que sinto
É difícil de explicar.

O poeta Manoel Clemente, desprovido de beleza física, querendo se exibir fez a seguinte sextilha:

Meu amigo camarada
Eu já sou muito gatinho
As meninas falam disso
Pois, você fique espertinho
Elas vão atrás de mim
E você fica sozinho.

Aí mandei esta:

Saudade, amor e carinho
Esses três eu nunca sinto
Nas telas do firmamento
Nos meus versos nunca pinto
E é assim que eu vejo agora
Você mente, também minto.