MOTE:
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Jessé Costa:
A rolinha sai do abrigo
E o caçador vai atrás
A vaca morta se jaz
E a coral volta ao jazigo
O preá mostra o umbigo
E um bem-te-vi cantante
Quer fazer frente possante
Galo que o dia aclama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Kerlle de Magalhães:
Os pardais sobre a cascata
Voando pelas campinas
Atravessam as colinas
Cantando no meio da mata
E um açude da cor de prata
Na paisagem delirante
A natura segue avante
Na invenção que Deus proclama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Cícero Moraes:
Esconde-se o bacurau,
Vaga-lume e a acauã
Salta pra longe uma rã,
Ouve-se ali pica-pau,
Borboletas no quintal
Num bailado interessante
Um beija-flor bem brilhante
Beijando a flor que ele ama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Jessé Costa:
A rolinha sai do abrigo
Caçador tá bem atrás
A vaca morta se jaz
E a coral volta ao jazigo
O preá mostra o umbigo
E um bem-te-vi cantante
Quer fazer frente ao possante
Galo que o dia aclama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Kerlle de Magalhães:
Um cortejo de besouros
Envolve as pedras soltas
Entocadas quando envoltas
Retidas como tesouros
E com alguns sabiás louros
Compondo um cantar infante
Passa um vento viajante
Nas folhas fazendo trama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Cícero Moraes:
Abelhas em seu bailar
Viajam pelo vergel
Procurando o doce mel
Para a colméia inflar
Não saem sob luar
Nem com a lua brilhante
Pois, com o sol escaldante
Perfume da flor lhe chama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Jessé Costa:
O açude se transforma
De um preto ofuscado
Prum azul meio espelhado
Refletindo toda forma
O guará não se conforma
Olhando de lá distante
O puleiro insinuante
“ – eita fome da disgrama!”
quando a luz enlaça a rama
pela relva cintilante.
Kerlle de Magalhães:
Joaninha desliza lenta
Entre os galhos da folhagem
Quando o grilo na serragem
Das canelas movimenta
Umas notas e se senta
Toca as talas galopantes
E a toada delirante
Nas campinas tem-se fama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.
Jessé Costa:
S’á Maria se levanta
Dá um cutucão em Zé
Vai coar o seu café
E re-esquentar a janta
Zé se benze frente à Santa
Dá um beijo em sua amante
Enche o bucho, segue a diante
Na labuta se derrama
Quando a luz enlaça a rama
Pela relva cintilante.